Enquanto seres humanos, frágeis, cheios de ausência internas e externas, tendemos tantas vezes a querer cristalizar momentos, épocas, pessoas, lugares e até estados emocionais em nossas vidas. De igual modo, muitas vezes tentamos pular, avançar, coisas desagradáveis que eventualmente decorrem em nossa existência. Coisas as quais, se pudéssemos, nem vivenciaríamos. Tão bom seria se pudéssemos ter um controle como naquele filme “Click” com Adam Sandler, onde ele pode controlar momentos da vida dele. Porem, infelizmente (ou felizmente, vai saber?) não é assim que a vida acontece. E quão difícil é pra gente perceber e lidar com isso. E é justamente aqui que entra a percepção da impermanência na vida.
Nada é fixo, nada é permanente, tudo se esvai, tudo flui. O budismo parte do pressuposto de que na vida há sofrimentos e eles são inevitáveis. E uma das principais causas dos nossos sofrimentos se dá no fato de termos apegos e aversões às coisas. Dá-se ao fato de não entendermos que não é possível manter-se presos a realidades que mais cedo ou mais tarde passarão. Sabe aquelas cenas em que há uma multidão de fãs loucos para tirarem uma foto, abraçarem ou pegarem um autografo de seu ídolo? E, no momento em que o ídolo passa naquele corredor de fãs, ele para, fala, tira foto, autografa, mas querendo eles ou não, o ídolo deles irá embora. Muitas vezes alguns deles tentam agarrar o ídolo em um abraço, mas não importa, ele irá!
Da mesma forma acontece com as realidades da vida: elas vêm, as experienciamos e então se consomem. Tentar se apegar é gerar sofrimento para nós mesmos. Se conseguíssemos entender que absolutamente nada em nossa existência é fixo, permanente, conseguiríamos lidar melhor com a realidade humana, sofreríamos menos. É como querer segurar um rio: mais cedo ou mais tarde ele vencerá a barreira e restarão apenas as dores devido o esforço de tentar mantê-lo fixo, parado, estagnado. Se uma árvore for completamente rígida, parada, ela se quebrará com a força do vento, pois o vento passará, e se ela tentar se manter cristalizada, ela vai sofrer as dores de se romper.
Portanto, tente ser como uma pequena rocha no meio da correnteza de um rio: ele vem, ao encontrar a rocha, as águas a contornam e o rio segue seu fluxo. A rocha não busca parar a correnteza – pois, se a tentasse, seria arrastada –, mas apenas experiência o fluxo e o contato com as águas e deixa que o movimento continue, posto que assim é a natureza da existência. Não lute contra a impermanência. Não crie apegos. Mantenha-se vivo na experiência e deixe as realidades completarem seu ciclo de impermanência e você lidará melhor com a vida e sofrerá menos.
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